quarta-feira, 1 de agosto de 2012

Reitoria da Ufal insiste na política de criminalização

 A ação política da atual gestão vai além das manobras de criação de grupos de trabalho e da repressão direta através de penalizações judiciais

Rafael Soriano de Maceió (AL)

Ato contra a perseguição aos estudantes - Foto: Rafael Soriano
Repetindo a tragédia, após a ocupação de cinco dias da reitoria da Ufal entre 5 e 9 de setembro de 2011, a gestão reitoral da universidade encomenda novo processo judicial contra estudantes em ação política. Desta vez, além da própria entidade DCE-Ufal, são processados Bruno Calheiros, Cícero Fernandes, Danyel Maxwell, Ésio Melo, Fernanda Mota, Jônatas Absalão e Túlio Avelino, todos militantes ativos no movimento estudantil. Eles estavam no grupo que, durante a breve greve de professores no ano de 2011 na Ufal, se reuniu em assembleia e definiu uma pauta estudantil para ser entregue à administração superior da Universidade.

 
 
   
Ao receberem a negativa da reitoria em ouvi-los, os estudantes ocuparam as dependências do órgão, no Campus A.C. Simões, em Maceió. Após acordos com a presença do Ministério Público Federal (MPF), os estudantes em nova assembleia decidiram desocupar a reitoria, e continuar as negociações a partir de Grupos de Trabalho orientados por tema (assistência estudantil, infraestruturas e ensino, pesquisa e extensão). Como em anos anteriores, a definição destes GTs apenas amornaram as discussões e empurraram para frente problemas urgentes de serem resolvidos.
Neste caso, a ação política da atual gestão encabeçada por Eurico Lobo (Química) vai além das manobras de criação de grupos de trabalho e da repressão direta através de penalizações judiciais: a camada de intelectuais orgânicos do grupo se arranja para pensar justificações no campo ideológico para afirmação da tática fascista-repressora. Durante reunião do Conselho Universitário (Consuni-Ufal), instância máxima deliberativa da Universidade, quando os estudantes formalizaram o pedido para que a reitoria desistisse da ação judicial, os presentes foram contemplados com uma declaração desastrada da vice-reitora Raquel Rocha (Ciências Sociais).
Nas palavras da mandatária, “antigamente, na época dos meus pais e de muitos aqui, quando a gente era fichado no Dops [Departamento de Ordem Política e Social], quando a gente era cadastrado no Serviço Nacional de Informação [SNI], quando era perseguido, a gente tinha orgulho”. Ela continua: “agora não! Os estudantes são responsabilizados por uma ação que fazem e agora estão se ‘afrouxando’. Quem ocupa deve ter claramente a noção que as coisas tem uma consequência. Esse é o preço, não tem nenhuma criança aqui.”
Para Ésio Melo, ex-diretor do DCE-Ufal, citado no processo, “se pra ela tem que ser perseguido mesmo, pra nós nunca foi orgulho nenhum nem antigamente nem hoje, quando se pensa na vergonha nacional dos diversos casos de violência, perseguição, assassinatos de militantes.” O militante avalia que esta concepção vai em contradição com a ideia de uma Universidade realmente plural, um ambiente para exercício da democracia: “a Universidade deve ser um ambiente limpo para a confrontação de ideias, um ambiente de construção, de base”.
Ésio analisa que esta tática, agora numa desgastante repetição, de medidas punitivas em detrimento do diálogo é consequência direta do “estourar das lutas”. “A reitoria não consegue segurar as revoltas estudantis, muito menos resolve os problemas estruturais da Universidade e se apega à perseguição como revide”, explica.


Nenhum comentário:

Postar um comentário